12
Mar 12

De Sol a Sol

autor: Armando Silva Carvalho (Olho Marinho, Óbidos, 1938).
título: De Sol a Sol
colecção: «Poesia Inédita Portuguesa»
edição: Assírio & Alvim
local: Lisboa
ano: 2005
págs.: 159
dimensões: 20,5x14,5x1 cm. (brochado)
capa: pintura de Ilda David', s/ título, Colecção Fiama Hasse Pais Brandão
impressão: Tipografia Guerra, Viseu
tiragem: 1000
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25
Nov 11

Cantos do Canto

autor: Fiama Hasse Pais Brandão
título: Cantos do canto
colecção: «Poesia» #31
editora: Relógio d'Água
local: Lisboa
ano 1995
págs.: 57
dimensões: 21x14x0,4 c. (brochado + s/c)
impressão: Arco-Íris, Artes Gráficas
capa: Fernando Mateus
publicado por RAA às 18:00 | comentar | favorito
18
Nov 11

...

     Se, depois de Abril de 74, eu imediatamente me dissera: "eis-me livre da praça pública, do político, na poesia", agora, hoje, não me é possivel olhar para os mortos que flutuam no lago de Kiwu, sem desejar poetar sobre eles.

     Não posso ver, hoje, a fome crescente e a chacina entre nações sem comoção. E a emoção pelos seres, pelos outros, pela natureza, pelo Cosmos, gera o poema.

 

Fiama Hasse Pais Brandão

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09
Jun 11

NATUREZA-MORTA COM LOUVADEUS

Foi o último hóspede a sentar-se
no topo da mesa já depois do martírio.
As asas magníficas haviam-lhe sido quebradas
por algum vento. Perdera o rumo
sobre a película cintilante de água
no riacho parado. Tal como poisou
junto de nós, com o belo corpo magro
arquejante, lembrava, ainda segundo o seu nome,
um santo mártir. Enquanto meditávamos,
a morte sobreveio, e a pequena criatura,
que viera partilhar a nossa mesa,
depois de ter sido banida das águas
foi banida da terra. Alguém pegou
no volúvel alado corpo morto
abandonado sem nexo na brancura da toalha
-- que maculava --
e o atirou para qualquer arbusto raro
que o poeta ainda pôde fotografar.

Fiama Hasse Pais Brandão
publicado por RAA às 11:37 | comentar | favorito
01
Jan 11

...

Ó túmulo, ó vagas, chamava afastada
do mar e da morte a minha frase.
Comparei-a a mais uma voz
no deserto, que clamava neguei-lhe:
estava somente na margem
da distância, denominava de longe
onda que me devora
o nome que me esvai, chamei gesta
ao gemido, dei então ao copista
a cor da opala do mar,
morri em efígie na terra, ao mar dei
a loquacidade de quem morre.

Fiama Hasse Pais Brandão
publicado por RAA às 23:57 | comentar | favorito
24
Set 10

DO PESADELO I

De quinta para quinta,
os cães cantam
a madrugada de glória,
em que o Sol negro
floresce de nuvens negras.
Indo por atalhos sem sombra,
ouvi-os entoar
o canto da insónia.

Fiama Hasse Pais Brandão
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28
Ago 10

ORGANISTA

Nas resenhas da penumbra e da bruma, em alguns poemas,
houve a aproximação da morte e do júbilo.
O soprano jubilara, na arte sacra, enquanto ao órgão a personagem
desenha uma figura negra. Os emblemas mortais,
foice e gadanha, representam.
O desconhecido ou alguém configura o homem,
ecce, não cógnito, em figura. Dedilha as teclas,
persigna-te perante o teu sono. Delimita o tempo
do êxtase, o tempo da subsistência, o tempo da configuração.

Fiama Hasse Pais Brandão
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26
Ago 10

DO AMOR I

A névoa disse à árvore:
tu, cedro, perdes a tua forma,
se eu te abraço. Disse
o cedro: o Sol ama-me mais,
toma o meu corpo inteiro
no seu corpo e dá-lhe
ser, figura.

Fiama Hasse Pais Brandão
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23
Ago 10

DO AMOR II

Ver o cortejo de cedros
e acreditar que é o cenário.
Depois estender a mão
através da longa perspectiva
oblíqua e poder palpar,
na pele, que também os cedros
têm corpos húmidos, saliva,
à espera do Amor.

Fiama Hasse Pais Brandão
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19
Ago 10

DA COSTA DE CASCAIS

Aqui, na orla do mar, as cruzes
são sinais de pescadores perdidos
no fundo, mortos, quando buscam
o sal da vida. Em vez de a sua força
fazer ceder a vaga sob o anzol,
é a força do mar ou a paixão da vida
-- arquejante e morta --
que os puxa para um purgatório
de água revolta e de limos.

Fiama Hasse Pais Brandão
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