ÁRVORES DO ALENTEJO
Ao Prof. Guido Battelli
Horas mortas… Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido… e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!
E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis do horizonte!
Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
-- Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!
Florbela Espanca,
Charneca em Flor (1931) /
Antologia Poética
edição de Fernando Pinto do Amaral