15
Dez 11

MATURIDADE

Maturidade, sinto-te na polpa

dos dedos; abundante e macia.

Saturada de sábias,

doce-amargas amêndoas.

 

És o tálamo para a morte,

o velame no porto.

 

Sob teu musgo, a pedra.

O silêncio em teu seio é prata

e sofrer o lavor

minucioso do tempo.

 

À tua sombra de pomar

ressoam passos do eterno

entre folhas: do eterno.

 

Ó pesado momento,

ó bojo cálido!

 

Henriqueta Lisboa

publicado por RAA às 14:43 | comentar | favorito
29
Nov 10

ALARIDO

E veio a noite do alarido.

A noite clara, a noite fria,
com perfurados calafrios.

A noite com punhais erguidos
e olhos devassando perigos.

A noite cava, com ladridos
de cães atiçados. E espias.

A noite com tremores lívidos
e com membros estarrecidos
diante das ovelhas suicidas.

A noite de mármore e níquel
despedaçando-se em tinidos
no cristal violento das criptas.

Montanhas de ferro em vigília,
longas árvores comprimidas
e astros de fogo em carne viva

pasmaram de tanto alarido.

Henriqueta Lisboa
publicado por RAA às 14:47 | comentar | favorito