"Um dia mais, sou menos que era"
Um dia mais, sou menos que era
há momentos: rasurei o rosto
a barba que me embuça
sem imaginação nem sono.
Mas ela não se rende. Continua
a vegetar, raiz no sangue,
a mancha que parda punge
na máscara. E derrama-se.
Esta chaga não dói, ao supurar
contra o metal contrário:
é um mênstruo inesgotável,
servil, embora másculo.
Narcisismo ancestral, a matutina
perseguição aos pêlos,
enquanto o olhar comina o insulto
dos anos que fluem sob o espelho.
A pele não repulsa nunca a lâmina:
nem ao ser já pedra musguenta
e, ao despedi-la, outros receiem
que dela ainda esta erva cresça.
José Bento