SUPERMERCADO
Pensei nisso maduramente no supermercado hoje
Sinto que a qualidade não é a mesma e foge
E que pouco falta para que fique perdida
Lembro-me do rio que passa na minha terra
Porque comparo a esta enorme porcaria
Em que se transformou a antiga alegria
De o atravessar num tempo sem paz nem guerra
E quando as crianças empurram os carrinhos
Com uma devoção espantosa pelos corredores
Eu recordo bem com todos os pormenores
As demoradas procissões com muitos anjinhos
E não havia iogurtes nem sequer supermercados
Nem demonstradoras empenhadas em demonstrar
Não os pontos fortes de quem lhes vai pagar
Mas que estão tão cansadas como nós cansados
Se a vida fosse lógica deveria muito tempo sobrar
Quando se fazem estas refeições congeladas
Porque o tempo que se ganha sendo preparadas
Deveria ser para parar um pouco e para pensar