17
Set 10

SONETILHO VELHO E ACTUAL

Companheiro, ouves os choupos
gemendo mágoas de agora?
Os ventos sibilam roucos
a hora da nossa hora.

Noite de almas, noite fria...
O luar não traz mensagem...
Cada noite tem um dia.
Noite tirana, que a rasguem.

Sofro, noite... Sofre gente...
Cantam galos para o nascente...
Futuro, como nos pagas?

Pausa mais pausa é demência.
Na noite da consciência
versos só podem ser pragas!

José Fernandes Fafe
publicado por RAA às 22:33 | comentar | favorito
29
Ago 10

VISITAÇÃO

Quando morreste, voltei-me para o silêncio
(riam-se os deuses, de mofa, com certeza)
e prometi-te que nunca mais pecava...
Silêncio: claustro de distâncias infinitas,
por onde um monge vai, em penitência,
curvado, mas levantando um círio ardente
que lhe desvenda a noite:
chão de pedra,
nas margens dos capitéis, mortos nas ervas,
e dos votos, rasgados, entre as sombras.

Oh minha mãe, falhei, mas amanhã
eu partirei de novo para a tarefa...
É tua, ao menos, essa ingenuidade.


José Fernandes Fafe
publicado por RAA às 19:31 | comentar | favorito