19
Mar 15

BALADA DO REPARADOR DE INJUSTIÇAS

A sua cimitarra brilha como a neve,

       no cavalo branco, sua cela, recamada a prata,

faísca fugaz como estrela cadente.

       Ele chega como o vento,

parte como uma vaga,

       mata aqui um homem, mais além um outro.

Percorre, num ápice, dez mil li,

       sacode depois o casacão e desaparece,

ninguém sabe para onde,

       ninguém conhece o seu nome.

 

Poemas de Li Bai

(versão de António Graça de Abreu)

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17
Set 14

NO TEMPLO DA MONTANHA

Noite no templo

          do alto da montanha.

Posso levantar a mão,

          acariciar as estrelas,

mas não ouso falar

          em voz alta.

Receio assustar

          os habitantes do céu.

 

Poemas de Li Bai

(versão de António Graça de Abreu)

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30
Jun 14

A GARÇA-REAL

A garça-real desce sobre as águas de Outono,

          voa sozinha, como um floco de neve,

numa paz completa, num total abandono.

          Pousa depois na margem de areia, ao de leve.

 

Poemas de Li Bai

(versão de António Graça de Abreu)

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31
Mar 14

FIDELIDADE

Duas andorinhas voando sempre a par,

       não distinguem as torres de jade, nem palácios lacados,

mas juntas pousam,

       não distinguem balaustradas de mármore, nem ornatos de janelas,

mas juntas pousam.

       Incendiou-se a trave onde haviam feito o ninho,

as andorinhas fugiram do palácio imperial.

       O palácio também devorado pelo fogo,

mortos a andorinha-macho e os filhotes.

       Ao regressar, a andorinha-fêmea pairou longamente no ar,

contemplando as ruínas do palácio.

       Esta história me entristece.

 

Poemas de Li Bai

(trad. António Graça de Abreu)

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26
Nov 13

A CAÇA

Vive longe, para além das muralhas da cidade.

       Suas mãos jamais seguraram um livro,

sabe apenas caçar, é ágil e valente.

       Monta um possante cavalo das estepes

e, no Outono, parte orgulhoso à desfilada,

       seu chicote dourado roça a neve, estala no ar,

ele grita ao falcão e parte à aventura.

       Seu arco, uma meia-lua, jamais falha o alvo,

abate dois grous com una só flecha.

       Quem o vê circundar o lago, afasta-se receoso,

sua reputação inspira temor nos confins do deserto.

       Para quê envelhecer entre os livros da biblioteca?

Os letrados não valem o bravo nómada da planície.

 

Poemas de Li Bai

(versão de António Graça de Abreu)

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23
Out 13

VISITA EM VÃO A UM MONGE TAUISTA NA MONTANHA DAITIAN

Cães ladrando

       entre o murmúrio das águas.

Flores de pessegueiro carregando

       pesadas gotas de chuva.

Veados saltando

       no fundo da floresta.

Bambus selvagens perfurando

       a névoa gris.

Cascatas voando

       suspensas de cumes verdejantes.

Meio-dia, não se ouvem sinos.

       Ninguém sabe onde encontrar o velho mestre.

Triste, procuro apoio

       em dois ou três pinheiros.

 

Li Bai / António Graça de Abreu

Poemas de Li Bai

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19
Jun 13

O PESCADOR

A terra bebeu a neve

       e, de novo, desabrocham

as flores de pessegueiro.

       O lago é prata derretida

e são ouro recente

       as folhas do salgueiro.

Sobre as flores

       borboletas empoadas

descansam suas cabeças de veludo.

       Quebra-se a superfície do lago

quando, do barco parado,

       o pescador lança as redes.

Seu pensamento está com a mulher amada.

       Ele regressa ao lar,

tal como a andorinha

       leva comida ao seu par.

 

Poemas de Li Bai

(trad. António Graça de Abreu)

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03
Jun 13

MADRUGADA

Os campos frios embebendo-se em chuva recente,

        as cores da Primavera espalhando-se por toda a parte,

os peixes saltitando no grande lago azul,

        os tordos cantando nos pesados galhos verdes,

o pólen das flores salpicando-se de gotas de chuva,

        a erva dos montes arqueando-se por igual, na cintura,

no rio, entre bambus, restos de névoa

        afastando-se, levemente dispersos pela brisa.

 

Poemas de Li Bai

(trad. António Graça de Abreu)

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12
Ago 12

A UM PIRILAMPO

A chuva não apaga o teu fulgor,

        o vento aumenta o teu ardor.

Porque não voas para o céu distante

        e és, ao luar, um estrela cintilante?

 

Li Bai

(António Graça de Abreu) 

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11
Mar 11

OLHANDO COM TRISTEZA A LUA

Nesta pura primavera
houve um pinheiro
para ensombrar dez mil anos.
A lua treme
nas ondas crespas.
O luar avança
pela janela.

Num vácuo de alma
sento-me e canto
e penso em ti
profundamente.
Não nos veremos.
O gozo é morto.
É indizível
a dor que está
no coração
do homem.

Li Po (ou Li Bai)

(Jorge de Sena)
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