13
Set 15

VENDO A MORTE

Em todo o lado vejo a morte! E, assim, ao ver

Que a vida já vem morta cruelmente

Logo ao surgir, começo a compreender

Como a vida se vive inùtilmente...

 

Debalde (como um náufrago que sente,

Vendo a morte, mais fúria de viver)

Estendo os olhos mais àvidamente

E as mãos p'ra a vida... e ponho-me a morrer.

 

A morte! sempre a morte! em tudo a vejo,

Tudo ma lembra! E invade-me o desejo

De viver toda a vida que perdi...

 

E não me assusta a morte! Só me assusta

Ter tido tanta fé na vida injusta

...E não saber sequer p'ra que a vivi!

 

Manuel Laranjeira, Comigo (1912)

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23
Set 10

A TRISTEZA DE VIVER

Ânsia de amar! Oh, ânsia de viver!
Um'hora só que seja, mas vivida
E satisfeita... e pode-se morrer,
-- Porque se morre abençoando a vida!

Mas ess'hora suprema em que se vive
Quanto possa sonhar-se de ventura,
Oh, vida mentirosa, oh, vida impura,
Esperei-a, esperei-a e nunca a tive!

E quantos como eu a desejaram!
E quantos como eu nunca a tiveram
Uma hora de amor como a sonharam!

Em quantos olhos tristes tenho eu lido
O desespero dos que não viveram
Esse sonho de amor incompreendido!

Manuel Laranjeira
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