17
Nov 12

AS DESENCANTADAS

É belo ver brincarem as crianças!
É belo ver cantarem as raparigas!
Esparzindo alegrias e esperanças,
Desfolhando os amores em cantigas!

É belo ver, em tardes vitoriosas,
Os poetas, os heróis, os combatentes,
Sob as chuvas das pétalas de rosas,
Sob aplausos contínuos e frementes!

É belo ver as mães enamoradas!
É belo ver os sábios entretidos!
Por milhares de seres adoradas!
Por milhares de seres benqueridos!

Mas o que há de mais íntimo e profundo,
E mais consola o coração humano,
Sim, o que há de mais belo! é, neste mundo,
Ver um punhal no peito de um tirano!


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28
Jun 11

MEIO-DIA EM BROCOIÓ

Ante a glória, a esplender, tudo se obumbra!
Multiacende-se a sobremaravilha!
O radiecer frenético esfervilha!
A potência vulcânica deslumbra.

Ouro! Sideração! Não há penumbra!
O amarelo das árvores rebrilha!
A água se achamalota e rebrasilha!
O crisólito côncavo relumbra!

Plenitude! Loureja o meio-dia!
Luciferando, a fúria nos ofusca!
Treme a Terra, a eferver, fulge o flavor!

Apoteose! Ambreia-se a alegria!
A vida canta, a comburir corusca,
ensolarando a Guanabara em flor!

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27
Out 10

LES POÊTES SONT DES POÈMIERS

                                                                                                                                                                                                            A João Carlos de Azevedo

Entre os poetas e as árvores, os elos
São tais, há tão estreitas alianças,
Que revelam, nas verosimilhanças,
O sentimentos líricos mais belos.

A cumprirem destinos paralelos,
Em confraternidade, sem mudanças,
Na primavera se enchem de esperanças
E no outono de pomos amarelos.

Ambos, continuamente, fazem versos.
Na aparência mostrando-se diversos,
São seus pontos discordes diminutos.

Em colaboração, inspiradores,
Tendo a mesma pureza nos dão flores,
Tendo a mesma bondade nos dão frutos.

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10
Set 10

BALADA DOS SONS VELADOS

Amo nos versos a surdina
os tons de opala oriental,
do luar das noites de neblina,
as morte-cores de um vitral.
Quero que o verso seja tal
que em cada som tintinabule
tornando a frase musical
como a canção do rei de Tule.

Mesmo na estrofe alexandrina,
ampla, sonora e triunfal,
sinta-se bem que predomina
o semitom de uma vogal.
Nunca, de modo desigual,
haja uma rima que estridule.
E seja o verso natural
como a canção do rei de Tule.

O verso é a concha nacarina
que a enorme voz do vendaval,
doce, subtil, longínqua e fina,
repete em ecos de cristal.
Embora negro e funeral,
rouco e bramante, o mar ulule,
cante essa concha de coral
como a canção do rei de Tule.

OFERTA

Ó cavaleiros de San Graal!
Que o verso seja um véu que ondule
e evoque a imagem ideal
como a canção do rei de Tule.

Martins Fontes
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