28
Mar 12

SONETO PLUMÁRIO

No espaço a inquieta pluma rodopia,

rodopia no espaço a pluma inquieta.

Na haste, a gota de sangue da agonia

oscilante no espírito da queda.

 

O espaço é grande e azul demais para essa

pluma plainando solitária e fria

sob o teto de abril, a coisa aérea,

leve, levada pela ventania

 

para o chão, aproxima-se suave,

nota de canto, ainda um pouco de ave,

quando afinal termina o giro e pousa,

 

vê-se que a pluma exânime, caída,

era música e sal, era o gemido

migrante da asa e a lágrima do voo.

 

Mauro Mota

publicado por RAA às 14:45 | comentar | favorito
22
Dez 10

A POTRANCA

Era uma vez uma potranca branca
e alazã, flor quadrúpede e equina.
Era uma vez uma potranca pampa.
Fazia voar nos cascos a campina.

De mulher tinha o cheiro das axilas,
e a cor da vulva no vigor das ancas.
A energia brotava das narinas,
do suor, dos pêlos da potranca pampa.

Era uma vez a filha do Centauro,
quase aérea, suspensa pelas crinas,
a nostalgia do primeiro páreo.

Dor de vê-la cair na pista intacta,
morta e atenta à partida sobre os quatro
galopes paralíticos nas patas.

Mauro Mota
publicado por RAA às 18:06 | comentar | favorito