06
Mai 11

SEGREDO

Descansa. Nem tu sabes, nem eu digo!
A lua, que baixou do céu ao lago,
Não adivinha se a deixei... se a trago
Dentro da alma, como um sonho antigo.

O néctar, que eu procuro e que maldigo,
O vinho, que abençoo a cada trago,
Este veneno com que me embriago...
É mistério dum só: irá comigo!

Porque suplicas que me dê, que fale?
-- Porque não sabes quanto a noite vale
E não calculas como é bom assim!

Bem sinto a dor que o teu olhar goteja;
Mas o Princípio, por melhor que seja,
É pai dum monstro, que se chama Fim!

Queirós Ribeiro
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18
Abr 11

DOR MORTA

Foi secando aquela dor...
               Planta daninha!
Que perfume embriagador
          Ela não tinha!

Foi morrendo... o coração
          Inda se queixa...
Mas eu fiz uma oração
          Da sua queixa.

E, alta noite, vou rezar,
          Joelho em terra...
O céu chora com pesar,
          A sombra aterra.

Mas a lua entra a sair,
          Intemerata,
E o luar entra a cair
          -- Chuva de prata...

Então a dor que morreu
          Surge mais bela...
Quem move os lábios -- sou eu;
          Quem reza -- é ela.

Queirós Ribeiro
publicado por RAA às 11:07 | comentar | favorito
05
Abr 11

ASPIRAÇÕES

Lábios que imploro em vão, lábios que eu idealizo!
Ouvir-vos, mesmo ao longe, alegra-me e distrai-me.
Guarda-jóias que fecha e abre num sorriso,
          Lábios -- beijai-me!

Braços de neve? Não! -- Serpentes de delícias,
Quando o prazer vos torça e a febre-amor vos queime!
Cadeia de roubar a vida entre carícias,
          Braços -- prendei-me!

Olhos excepcionais! estranhos sóis polares!
Se a vossa luz me afasta, o vosso abismo atrai-me!
Grande como dois céus, fundos como dois mares...
          Olhos -- matai-me!

Queirós Ribeiro
publicado por RAA às 17:04 | comentar | favorito
25
Ago 10

SÚPLICA

Peguei nos sonhos
E fui atando...
Juntei! Juntei!
O aroma é brando...
Tristes? Risonhos?
Tudo! Nem sei!

Sonhos que eu amo
E em que me extingo...
Nevadas flores!
Não vos distingo...
Só vejo um ramo...
Confundo as cores!

Mas tu, que levas
O ramo ao lado,
Sem o pensar,
Queda um bocado!
-- Sacia as trevas
Ao meu olhar!

Dá-lhe um sorriso!
Depois, sem pranto,
Deixa-me só...
Lírio de encanto,
Que nem diviso
-- Porque sou pó.

Queirós Ribeiro
publicado por RAA às 10:51 | comentar | favorito