05
Dez 11

...

Que fazes tu, poeta? Diz! -- Eu canto.

Mas o mortal e monstruoso espanto

Como o suportas, como aceitas? -- Canto.

E que nome não tem, tu podes tanto

Que o possas nomear, poeta? -- Canto.

De onde te vem direito ao Vero, enquanto

Usas de máscaras, roupagens? -- Canto.

E o que é violento e o que é silente encanto,

Astros e temporais, como te sabem? -- Canto.

 

Rainer Maria Rilke

 

(Jorge de Sena)

publicado por RAA às 12:58 | comentar | favorito
29
Out 10

...

Rosa, em teu trono, pra os da Antiguidade
era um cálice com um bordo simples.
Mas para nós és a flor plena, inumerável,
o objecto inesgotável.

Pareces na opulência trajo sobre trajo
a envolver um corpo de nada mais que brilho;
mas cada pétala tua é a um tempo só
fuga e negação de toda a roupagem.

De há séculos teu perfume nos proclama
os seus nomes de maior doçura;
de súbito, paira no ar como uma glória.

No entanto, não sabemos nomear, adivinhamos...
E para ele passa a lembrança
que pedimos às horas invocáveis.

Rainer Maria Rilke

(Paulo Quintela)
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