03
Set 10

AQUELA CANÇÃO FATAL

A horas mortas da noite,
Canta uma voz de mulher...
Não sei que drama adivinho
Na sua canção qualquer!

Quem canta assim, altas horas,
E acorda a rua tranquila?
Faz-me pena essa canção
E, entanto, gosto de ouvi-la!

É uma canção de amor,
Pobre, anónima, vulgar.
Mas é cheia de amargura:
Escuto-a e dá-me em chorar!

Recordo, então, o passado,
Que julgava morto em mim.
-- Coração, porque acordaste?
-- Ó dor, porque não tens fim?

-- Porque acordaste, passado,
Porque voltaste, afinal?
-- Maldita a hora em que ouvi
Aquela canção fatal!

Cala-te, voz doce e triste,
Deixa, por Deus, de cantar!
Dorme, dorme, coração,
Não tornes mais a acordar!

Rebelo de Bettencourt
publicado por RAA às 11:13 | comentar | favorito
28
Mar 09

FOI A NOITE QUE CHOROU?

Eram em flor as estrelas
E de sonho era o luar!
-- Debrucei-me sobre a noite,
Para a ouvir e conversar.

Fiz-lhe as minhas confidências,
As suas mágoas lhe ouvi.
À noite amiga entreguei
Tudo o que por ti sofri.

Piedosa, a noite ia ouvindo
A minha dor, funda e amara.
Havia lágrimas no ar...
-- Se as havia, quem chorara?

Caía um luar mais fino,
um luar mais claro e belo.
-- Quem chorara? A noite ou eu?
Eu mesmo não sei dizê-lo!

Rebelo de Bettencourt
publicado por RAA às 00:55 | comentar | favorito