SINAL
Quanto amor me tens,
com amor to pago.
-- Trago-te no dedo,
num anel que trago.
Num anel redondo,
todo de oiro fino,
que é o teu sinal,
que é o meu destino.
Este anel me basta
pra bater-te à porta.
Truz! truz! truz! -- na rua
como o frio corta!
Como a chuva cai,
como o vento mia!
Mas abriste logo,
que eu é que batia.
(Que outro anel tivera
som que te chamasse?)
Já teu vinho bebo,
pra que o frio me passe;
já na tua cama
me aconchego e deito;
já te chamo Esposa,
peito contra peito.
Como tudo é simples,
como é tudo imenso!
Ó mistério enorme,
de um anel suspenso!
E eis, na tua mão,
num anel igual,
brilha o teu destino,
luz o meu sinal.
Sebastião da Gama, Pelo Sonho É que Vamos (póst., 1953).