HOMERO
Escrever o poema como um boi lavra o campo
Sem que tropece no metro o pensamento
Sem que nada seja reduzido ou exilado
Sem que nada separe o homem do vivido
Sophia de Mello Breyner Andresen,
O Búzio de Cós e Outros Poemas (1997)
Escrever o poema como um boi lavra o campo
Sem que tropece no metro o pensamento
Sem que nada seja reduzido ou exilado
Sem que nada separe o homem do vivido
Sophia de Mello Breyner Andresen,
O Búzio de Cós e Outros Poemas (1997)
Aquele que na hora da vitória
Respeitou o vencido
Aquele que deu tudo e não pediu paga
Aquele que na hora da ganância
Perdeu o apetite
Aquele que amou os outros e por isso
Não colaborou com sua ignorância ou vício
Aquele que foi «Fiel à palavra dada à ideia tida»
Como antes dele mas também por ele
Pessoa disse
Sophia de Mello Breyner Andresen, Musa (1994)
Este lugar amou perdidamente
Quem o cabo rondou o extremo Sul
E a costa indo seguindo para Oriente
Viu as ilhas azuis do mar azul
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Viu pérolas safiras e corais
E a grande noite parada e transparente
Viu cidades e nações viu passar gente
De leve passo e gestos musicais
Perfumes e tempero descobriu
E danças moduladas por vestidos
Sedosos flutuantes e compridos
E outro nasceu de tudo quanto viu
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1988
Sophia de Mello Breyner Andresen, O Búzio de Cós (1994)
Onde -- ondas -- mais belos cavalos
Do que estes ondas que vós sois
Onde mais bela curva do pescoço
Onde mais longas crinas sacudidas
Ou impetuoso arfar no mar imenso
Onde tão ébrio amor em vasta praia.
Dezembro 89
Sophia de Mello Breyner Andresen
A dicção não implica estar alegre ou triste
Mas dar minha voz à veemência das coisas
E fazer do mundo exterior substância da minha mente
Como quem devora o coração do leão.
Olha fita escuta
Atenta para a caçada no quarto penumbroso
Sophia de Mello Breyner Andresen